quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vacina da Dengue.

Vacina da Dengue


Por Dráuzio Varela
Aedes aegypti é um mosquito de sucesso. Veio da África nos porões dos navios negreiros e se espalhou pelo mundo graças a uma estratégia infalível: botar ovos em água parada e picar seres humanos.
Seu estilo de vida não nos causaria transtornos além do inconveniente da picada se não existissem vírus que causam dengue. Infectado por esses seres minúsculos formados por apenas dez genes, o Aedes aegypti se tornou transmissor involuntário de uma epidemia que se disseminou pela América Latina, África e Ásia.
Três a sete dias depois da picada, os sintomas surgem abruptamente: febre alta, dor atrás dos olhos, indisposição, falta de apetite, vermelhidão e dores fortes pelo corpo (febre quebra ossos).
  Decorridos mais três a cinco dias, a temperatura cai e a sintomatologia regride. Em cerca de 1% dos pacientes, infelizmente, o quadro se agrava: sangramento de vasos superficiais, hemorragias internas, queda da pressão arterial, choque, coma e distúrbios metabólicos que podem levar à morte, se não houver atendimento rápido e hidratação vigorosa.
 Na década de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebia anualmente cerca de 300 mil notificações de dengue. A partir do ano 2000 esse número atingiu 1 milhão.
 Como os sistemas de vigilância epidemiológica dos países afetados são precários, a OMS calcula que o número real de casos anuais esteja ao redor de 50 milhões. Destes, 400 mil seriam da forma hemorrágica.
 A doença é causada por quatro subtipos de vírus geneticamente muito próximos: subtipos um, dois, três e quatro. Uma vez curada, a pessoa se torna imune para o resto da vida, porém apenas contra o subtipo que a infectou. Não adquire imunidade cruzada contra os demais. Sendo assim, teoricamente, poderá ter dengue mais três vezes. Por razões mal conhecidas, a infecção subseqüente por um novo subtipo aumenta o risco de dengue hemorrágica.
Cerca de 90% dos que apresentam essa complicação já tiveram dengue, anteriormente. No passado, cada subtipo do vírus permanecia isolado em determinada área geográfica, mas a movimentação humana característica dos tempos modernos espalhou os quatro subtipos pelo mundo.
O combate à dengue tem se resumido à eliminação dos focos de água parada para impedir a multiplicação do mosquito transmissor, tarefa monumental, capaz de reduzir o número de casos, mas não de acabar com eles. Enquanto não for descoberta uma vacina, será impossível eliminar a dengue. Estamos longe de obtê-la? Nem tanto.
As três maiores dificuldades são:
1)      Preparar uma vacina tetravalente, isto é, que ofereça proteção contra os quatro subtipos;
 2) Cultivar o vírus em meio de cultura;
3) A inexistência de um modelo experimental: ratos e cobaias não são infectados pelo vírus; os macacos sim, mas não ficam doentes.
Na década de 1990, estudos conduzidos pela universidade Mahidol, na Tailândia, demonstraram que era possível atenuar o vírus em laboratório e obter vacinação eficaz contra os subtipos um, dois e quatro.
Quando a essa preparação foi adicionado o subtipo três, no entanto, houve perda de atividade: os voluntários vacinados adquiriram dengue do tipo três e tiveram a produção de anticorpos contra os subtipos um dois e quatro prejudicada.
 Pesquisadores do Walter Reed Army Institute, dos Estados Unidos, também tiveram problemas para adicionar o subtipo três atenuado à preparação que continha os demais, mas acabaram contornando as dificuldades. No próximo ano, o laboratório GlaxoSmithKline testará essa vacina em milhares de voluntários para avaliar seu grau de proteção.
O laboratório Sanofi Pasteur desenvolveu um tipo alternativo de vacina por meio da engenharia genética. A técnica permitiu unir alguns genes dos quatro vírus da dengue com outros presentes na vacina da febre amarela (os vírus da dengue e da febre amarela são geneticamente aparentados). A vacina tetravalente assim obtida está sendo testada em adultos e crianças.  Há ao menos mais três preparações vacinais em fase de ensaios clínicos.
A Fundação Bill e Melina Gates acaba de destinar US$ 55 milhões para agilizar a execução desses estudos, nos próximos cinco anos. Os pesquisadores envolvidos nesse trabalho calculam que em dez anos, no máximo, surgirá uma vacina capaz de prevenir o aparecimento da dengue. Até lá, só nos resta executar a tarefa insana de combater os focos de água parada. 

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